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ARTE POPULAR DE ALAGOAS EM
PRÉ-ESTREIA

A terceira edição do livro Arte Popular de Alagoas – uma criação original da artista e colecionadora Tânia de Maya Pedrosa -, está em processo de finalização. O que apresentamos a seguir é uma pré-estreia, um trailer para aguçar o sentimento estético do que virá depois. 

A publicação, que resgata o icônico livro, lançado há 20 anos, traz novos olhares sobre a arte e a cultura populares de Alagoas e do Nordeste, em um esforço incomum, mas prazeroso, de Tânia Pedrosa, em seus 90 anos. 


Como lembra a autora, no prelúdio de seu livro, ela imprimiu um verniz a mais nos textos, artigos, ensaios, fotografias e poesias selecionados para essa edição comemorativa. O livro ganhou contornos atuais e análises contemporâneas sobre Arte Popular, e revisitou textos originais das edições de 2000 e 2003, por sua importância histórica.

Entre os novos convidados e colaboradores estão artistas e especialistas, como Augusto Luitgards, Oscar D´Ambrósio, Adélia Borges, Marinilda Boulay, e os críticos de arte francês, Laurent Danshin, e a brasileira radicada no Velho Continente, Cères Franco. Presentes também grandes nomes do Nordeste, como Frederico Pernambucano de Mello, Luiz Sávio de Almeida, Théo Brandão, Cármem Lúcia Dantas, Dirceu Lindoso. Seria uma longa lista, se nomearmos os autores dos artigos dos 12 capítulos da nova edição. 


O livro Arte Popular de Alagoas é uma experiência sensorial pelo mundo da arte popular brasileira, com textos e fotos ilustrando histórias da criatividade de homens e mulheres que já nasceram artistas, talhando a madeira, moldando o barro e a cerâmica, bordando as tecituras de suas vidas. O olhar sensível de Tânia conseguiu ver o que poucos enxergavam, em uma época que a arte popular era invisível ou vista com preconceito. Sempre à frente de seu tempo, ela reconhecia o valor inigualável da expressão das raízes e da ancestralidade de Alagoas, vinda das mãos dos mestres e mestras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

UM CAPÍTULO NAÏF 


No imbricamento de sua arte pictórica na pintura naif com a arte popular de sua coleção, o livro de Tânia Pedrosa mostra nos textos organizados e pesquisados por ela, os folguedos e o folclore, o imaginário do povo do Nordeste, com um olhar muito especial sobre as romarias, as festas e ritos, as músicas e danças. O comportamento dos devotos e dos beatos, as superstições e as crendices. 
As pinturas de Tânia se destacam pelas cores majestosas e pelos desenhos de traços simples, carregados de um universo simbólico nordestino, com referências às crendices populares e tradições religiosas, sendo ela uma cronista que interpreta e transpõe para as telas a realidade em que vive e respira. “Tenho muito orgulho que minha obra seja considerada naïf, mas gosto sempre de lembrar que o que faço é escrever com os pincéis. E, por meio deles, construir uma memória visual da paisagem e de um modo de vida popular brasileiros, um jeito simples de viver. Isso é o que realmente importa”.


Seus quadros em Arte Naif, percorreram o mundo e foram expostos em galerias, museus e coleções, como a Galérie Pro Arte Kasper, na Suíça; o Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil (MIAN), no Rio de Janeiro; a Representação da Unesco no Brasil, em Brasília; o Centre Régional d'Art Contemporain, na França; o Musée de la création Franche e o Musée des Beaux Arts, ambos na França. 


O crítico de arte Augusto Luitgards, pós-graduado em História da Arte pela PUC-MG, no texto inédito que escreveu para o Arte Popular de Alagoas, assinala que Tânia é um caso peculiar da gênese de um colecionador. Para ele, a aproximação de Tânia com os artistas envolvia, além da aquisição de obras para sua coleção, a indicação deles para outros colecionadores.  e a apresentação de possibilidade de comercialização mais justa de suas produções.


Considero impensável apartar a colecionadora de arte popular da pintora, pois ambas se alimentam do lirismo despretensioso, produzem obras prenhes de caráter narrativo, nos desafiam a buscar a beleza pouco evidente, nos distanciam do lugar comum, nos levam a sonhar acordados, mostram-nos o grande valor das pessoas ditas comuns, nos encantam e nos ensinam que, apesar de não admitirem, muitos artistas modernos e contemporâneos se apropriam de elementos típicos da estética popular. Trata-se, pois, de dois universos que, não raro, são vistos como despojados, mas que muito falam aos nossos corações e mentes. Falam e falam muito de nossa gente, de nossas tradições, de nossos valores, da sociedade circundante. Ao público, basta fruir sem restrições e maravilhar-se com a criatividade de nosso povo”.

Tânia não só deu visibilidade à singularidade a esses tesouros, até então irrevelados, como estimulou e fortaleceu a produção dos artistas populares. E assim, esses artistas estão na primeira prateleira de colecionadores e galerias de arte. O livro traz histórias de nomes revelados por Tânia Pedrosa, como Fernando da Ilha do Ferro, Manoel da Marinheira de Boca da Mata, João das Alagoas e Sil de Capela, Irinéia do povoado quilombola de Muquém, Resêndio do Baixo São Francisco e Antônio de Dedé de Lagoa da Canoa. Em seus 50 anos de garimpo de arte popular, Tânia formou uma das maiores e mais relevantes coleções de arte popular alagoana e nordestina, seu acervo possui mais de 1.500 peças de artistas populares de Alagoas e do Nordeste, incluindo a coleção permanente A Invenção da Terra, na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Maceió.

Capa da primeira edição.

Foto da Capa: Telas de Tânia de Maya Pedrosa; contracapa: Mamulengos, por Celso Brandão

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